Mãe — Não precisávamos do vírus para dar mais valor à vida.
Matilde — Porque dizes isso, mãe?
Mãe — Olha, porque estou cansada, filha. Desculpa. Este internamento do avô está a ser difícil. E não percebo estas pessoas que dizem que este vírus tem esta coisa muito boa de nos obrigar a dar mais valor à vida... Não faz sentido.
Matilde — Sim, é estranho. Como se fosse preciso tantas pessoas sofrerem para se dar valor à vida... Se pudesses visitar o avô era mais fácil, não era?...
Mãe — Sim, claro. Mas percebo que não possa. Mas bastava-se falar com ele, mas nem isso é possível. Mas temas mesmo de perceber que é para o bem de todos.
Matilde — O avô não vai morrer, pois não?
Mãe — Ele está nos cuidados intensivos, é grave, mas ele sempre teve muita força. E sei que no hospital estão a fazer tudo para que ele viva. Mas é difícil para todos, doentes, médicos, enfermeiros...
Matilde — Pois, acho que todos os que trabalham nos hospitais sempre deram valor à vida, não precisavam de prova nenhuma disso.
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